Eu ouço, leio e assisto a Internet ser acusada
de separar casais, desagregar familias, tornar as pessoas
reclusas em suas casas.
E realmente me espanto quando vejo a "Internet"
ser tratada como uma entidade, um ser vivo,
com poderes manipuladores, como se as pessoas tivessem
perdido a capacidade de pensar por si mesmas e, pior:
quem faz uso constante dela é visto como, no mínimo, "esquisito".
Não estou aqui defendendo um equipamento,
um canal de comunicação, mas sim o direito de cada um
viver como achar melhor, sem ser chamado de "pessoa esquisita"
porque usa um computador para o próprio lazer e, muitas vezes,
como instrumento de trabalho!
Todos têm o direito de ser tratados como "pessoas normais" !
O que entendo é que a Internet, assim como a televisão o foi
na sua época, não modifica o comportamento das pessoas:
Ela apenas faz vir à tona situações que já existiam anteriormente.
Um relacionamento não vai mal porque ele ou ela
conheceram outra pessoa virtualmente:
esse relacionamento, com certeza, já não estava bem.
A necessidade do outro procurar alguém que o ouça,
alguém que lhe dê carinho, mesmo que virtual, revela isso.
Se somos felizes com quem convivemos,
qual a necessidade de procurarmos outra pessoa?
A rede, neste caso, apenas facilitou o que invariavelmente
aconteceria na vida real.
Talvez apenas demorasse mais para acontecer.
Acredito que o maior problema em nossas vidas,
como diz a Marina Colassanti em um de seus textos
" Eu sei, mas não devia ",
é que a gente se acostuma ...
A gente se acostuma porque existem os filhos,
existe a empresa, a conta bancária, os amigos, os pais ...
Desculpas e comodismo não faltam.
Faça a sua lista !
E daí , surge a Internet, a grande " vilã ".
A culpa é dela ( até " feminina " ela é ! )
e não nossa que desistimos de nós mesmos,
de sermos felizes, dos nossos sonhos.
Ficamos acomodados no dia-a-dia, que não é lá grande coisa,
mas dá para ir levando com uma traiçãozinha aqui, outra ali ...
ora, é apenas virtual !!!
" - Mesmo porque, eu tenho direito a uma folga
depois de uma semana tão exaustiva !!! "
E a Internet torna-se a culpada de tudo isso ...
De fazer com que as pessoas não saiam de casa, curtam barzinhos,
boites, papo na esquina, churrasco com os vizinhos,
essas coisas bem comuns de " gente normal ".
Será impressão minha, mas o motivo de as pessoas
não sairem de casa e levarem uma " vida normal "
é resultado da falta de segurança e da violência
que antes da Internet já existiam ???
Já não éramos prisioneiros de nossas casas antes disso ???
Só que com uma diferença:
antes não tínhamos opção além de assistir os plim-plins,
ratinhos e silvios.
Hoje temos.
Então acusam um equipamento eletrônico de governar nossas vidas,
como se tivéssemos perdido a capacidade de pensar e de saber
o que é melhor para nós.
Penso que perdemos muitas vezes essa capacidade
bem antes, quando acreditamos que a " democracia política "
em nosso país, depois da ditadura militar,
tornaria o nosso país melhor e mais justo,
que seríamos o país do " futuro ".
Aliás, o presente parece nunca chegar !
Quando votamos em certas pessoas deixamos que - elas sim -
governem a nossa vida e não reagimos.
Não foi a Internet que mudou o comportamento das pessoas,
ela apenas tornou-se uma opção
para fugirmos, muitas vezes, daqueles problemas que já existiam.
Fico triste de ver as pessoas usarem e acusarem a rede
para justificar os erros que cometem, ou as suas dificuldades
com a vida no dia-a-dia, quando deveriam fazer
uma análise de consciência e parar para pensar, para conversar
sobre o que está errado, tentar resolver suas vidas,
sem usar um computador como fuga e desculpa.
E isso não é ser mau-caráter, é apenas ser humano
e acomodar-se às situações.
Nós somos assim .... apenas humanos.
Assisti a uma entrevista um dia desses em que alguém
dizia que as crianças passam horas em frente ao computador,
e que isso é extremamente nocivo à educação delas.
Concordo !
Tudo que é demais, exagero, faz mal.
Principalmente, quando se trata de crianças que precisam
brincar de roda, pique-esconde, essas coisas da infância .
Mas prefiro ver uma criança em frente a um computador,
onde ela aprende e interage, do que em frente a uma telinha
assistindo a desenhos e filmes, onde o número de mortos
em meia hora pode ser muito maior do que os da Guerra do Vietnan.
Esse meio de comunicação maravilhoso existe para que nós
cresçamos como pessoas, emocional e intelectualmente;
para que façamos, cada dia mais, parte de uma "comunidade mundial",
sem barreiras e sem preconceitos.
Um mundo onde todos um dia possam não mais ficar com medo de
viver a realidade, mas vivê-la plenamente.
Então, por favor, parem de me achar uma pessoa estranha,
diferente e entendam que nem todos os que ficam
em frente a esta telinha durante horas estão fugindo
dos seus problemas, mas apenas acham
bem mais interessante esta telinha aqui
do que os plim-plins da vida.
E que ela não é a responsável, a vilã da história ou
a causadora de desvios ou desagregações.
Os responsáveis somos nós quando esquecemos que junto
com a capacidade de pensar nos foi dada uma pequenina
condição chamada " livre arbítrio ".
Vilgarte Larsen
Texto escrito em 1998
de separar casais, desagregar familias, tornar as pessoas
reclusas em suas casas.
E realmente me espanto quando vejo a "Internet"
ser tratada como uma entidade, um ser vivo,
com poderes manipuladores, como se as pessoas tivessem
perdido a capacidade de pensar por si mesmas e, pior:
quem faz uso constante dela é visto como, no mínimo, "esquisito".
Não estou aqui defendendo um equipamento,
um canal de comunicação, mas sim o direito de cada um
viver como achar melhor, sem ser chamado de "pessoa esquisita"
porque usa um computador para o próprio lazer e, muitas vezes,
como instrumento de trabalho!
Todos têm o direito de ser tratados como "pessoas normais" !
O que entendo é que a Internet, assim como a televisão o foi
na sua época, não modifica o comportamento das pessoas:
Ela apenas faz vir à tona situações que já existiam anteriormente.
Um relacionamento não vai mal porque ele ou ela
conheceram outra pessoa virtualmente:
esse relacionamento, com certeza, já não estava bem.
A necessidade do outro procurar alguém que o ouça,
alguém que lhe dê carinho, mesmo que virtual, revela isso.
Se somos felizes com quem convivemos,
qual a necessidade de procurarmos outra pessoa?
A rede, neste caso, apenas facilitou o que invariavelmente
aconteceria na vida real.
Talvez apenas demorasse mais para acontecer.
Acredito que o maior problema em nossas vidas,
como diz a Marina Colassanti em um de seus textos
" Eu sei, mas não devia ",
é que a gente se acostuma ...
A gente se acostuma porque existem os filhos,
existe a empresa, a conta bancária, os amigos, os pais ...
Desculpas e comodismo não faltam.
Faça a sua lista !
E daí , surge a Internet, a grande " vilã ".
A culpa é dela ( até " feminina " ela é ! )
e não nossa que desistimos de nós mesmos,
de sermos felizes, dos nossos sonhos.
Ficamos acomodados no dia-a-dia, que não é lá grande coisa,
mas dá para ir levando com uma traiçãozinha aqui, outra ali ...
ora, é apenas virtual !!!
" - Mesmo porque, eu tenho direito a uma folga
depois de uma semana tão exaustiva !!! "
E a Internet torna-se a culpada de tudo isso ...
De fazer com que as pessoas não saiam de casa, curtam barzinhos,
boites, papo na esquina, churrasco com os vizinhos,
essas coisas bem comuns de " gente normal ".
Será impressão minha, mas o motivo de as pessoas
não sairem de casa e levarem uma " vida normal "
é resultado da falta de segurança e da violência
que antes da Internet já existiam ???
Já não éramos prisioneiros de nossas casas antes disso ???
Só que com uma diferença:
antes não tínhamos opção além de assistir os plim-plins,
ratinhos e silvios.
Hoje temos.
Então acusam um equipamento eletrônico de governar nossas vidas,
como se tivéssemos perdido a capacidade de pensar e de saber
o que é melhor para nós.
Penso que perdemos muitas vezes essa capacidade
bem antes, quando acreditamos que a " democracia política "
em nosso país, depois da ditadura militar,
tornaria o nosso país melhor e mais justo,
que seríamos o país do " futuro ".
Aliás, o presente parece nunca chegar !
Quando votamos em certas pessoas deixamos que - elas sim -
governem a nossa vida e não reagimos.
Não foi a Internet que mudou o comportamento das pessoas,
ela apenas tornou-se uma opção
para fugirmos, muitas vezes, daqueles problemas que já existiam.
Fico triste de ver as pessoas usarem e acusarem a rede
para justificar os erros que cometem, ou as suas dificuldades
com a vida no dia-a-dia, quando deveriam fazer
uma análise de consciência e parar para pensar, para conversar
sobre o que está errado, tentar resolver suas vidas,
sem usar um computador como fuga e desculpa.
E isso não é ser mau-caráter, é apenas ser humano
e acomodar-se às situações.
Nós somos assim .... apenas humanos.
Assisti a uma entrevista um dia desses em que alguém
dizia que as crianças passam horas em frente ao computador,
e que isso é extremamente nocivo à educação delas.
Concordo !
Tudo que é demais, exagero, faz mal.
Principalmente, quando se trata de crianças que precisam
brincar de roda, pique-esconde, essas coisas da infância .
Mas prefiro ver uma criança em frente a um computador,
onde ela aprende e interage, do que em frente a uma telinha
assistindo a desenhos e filmes, onde o número de mortos
em meia hora pode ser muito maior do que os da Guerra do Vietnan.
Esse meio de comunicação maravilhoso existe para que nós
cresçamos como pessoas, emocional e intelectualmente;
para que façamos, cada dia mais, parte de uma "comunidade mundial",
sem barreiras e sem preconceitos.
Um mundo onde todos um dia possam não mais ficar com medo de
viver a realidade, mas vivê-la plenamente.
Então, por favor, parem de me achar uma pessoa estranha,
diferente e entendam que nem todos os que ficam
em frente a esta telinha durante horas estão fugindo
dos seus problemas, mas apenas acham
bem mais interessante esta telinha aqui
do que os plim-plins da vida.
E que ela não é a responsável, a vilã da história ou
a causadora de desvios ou desagregações.
Os responsáveis somos nós quando esquecemos que junto
com a capacidade de pensar nos foi dada uma pequenina
condição chamada " livre arbítrio ".
Vilgarte Larsen
Texto escrito em 1998
Vilgarte Larsen
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